Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo, pois há segredos que eu não conto nem a mim mesma. E não é só o último segredo que revelo: há muitos segredinhos primários que eu deixo que se mantenham em enigma... (Clarice Lispector)

"São pelos pequenos momentos ...Que a gente quase morre ...Que intensamente vive ...Que longamente espera..."

sexta-feira, 17 de julho de 2015


Ô seu moço, não me olha desse jeito bonito não. As pernas bambeiam sempre que você me encara desse jeito, meio apaixonado, meio com sede, meio com fome, meio querendo mais. É que também quero demais, entende? E ver você me encarando desse jeito bonito me faz acreditar que amor existe e eu jurei, n'outra vida, que eu não acreditaria mais nesse trem não... Então faz favô, seu moço, não me olha desse jeito bonito, desse jeito de pulsar esperança boba e de suspirar tresloucada por qualquer canto. Pode não, seu moço.

Ô seu moço, me deixa viver a minha vidinha pacata, desse jeitin que levo desde que mandei o último amor embora. Finalmente eu tinha aprendido a dançar sozinha, sabe seu moço? Não tava mais ligando para as pessoas não, seu moço. Tava tudo certin, certin. E tranquilin do lado de cá. Maré mansa, sabe seu moço? Eu abria o zoião quando acordava e a rotina era levinha o resto do dia... Não tinha esse trem louco de borboletas no estômago não, seu moço. E eu sentia fome. Uma fome danada, o dia inteiro. Desde que acordava até a hora que relava a cabeça no travesseiro.

Agora, seu moço, depois que cê passou a me olhar bonito desse jeito, eu ando é sem fome, sabe? E meu rosto parece que carrega aquelas cãibras doloridas, porque meu lábio não para de sorrir. Cada vez que te vejo me olhando desse jeito bonito parece que a boca quer ver se consegue chegar mais pertin da orelha do que antes. É, é isso mesmo, seu moço, tô o reflexo daquele ditado sorrindo de orelha a orelha. Tá vendo não? Se meu rosto rasgar no meio de tanto sorrir, será culpa tua, seu moço... Mas calma, seu moço. Dói não. Tá bonito assim. Meu coração tá louco de tanto pular, mas tá sereno, tá tranquilo.

Tá pulsando uma paz danada de boa do lado de cá, seu moço. Continua me olhando desse jeito bonito assim e me leva para as banda do amor, daquele jeitin de mãos dadas.  Tá tudo bem, seu moço. Eu vou contigo onde cê for.


quinta-feira, 16 de julho de 2015





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