Não pense que escrevo aqui o meu mais íntimo segredo, pois há segredos que eu não conto nem a mim mesma. E não é só o último segredo que revelo: há muitos segredinhos primários que eu deixo que se mantenham em enigma... (Clarice Lispector)

"São pelos pequenos momentos ...Que a gente quase morre ...Que intensamente vive ...Que longamente espera..."

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amar


Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. Olá, Jhacy!

    Um poema de Carlos Drummond de Andrade, é algo de sublime, que todos nós lemos com muita satisfação e deleite!

    Amar, amar alguém perdidamente...

    Parabéns pelos belos poemas que apresentas no teu blog!

    Beijinho,

    Renato

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  2. amar é exatamente isso. O Drummond sabe das coisas, aushausha.

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Perfeito!Quando se ama não se escolhe o que nem a quem...

    Drummond é perfeito!

    Linda escolha!!

    Beijos!!!Sonia Regina.

    ResponderExcluir

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